Papa Francisco morre aos 88 anos em Roma

Papa Francisco morre aos 88 anos em Roma

O papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, em Roma. A morte foi confirmada pelo Vaticano às 2h35, no horário de Brasília (7h35 no horário local), mas ainda não há informações oficiais sobre a causa.

Francisco ocupou o posto mais alto da Igreja Católica por doze anos e enfrentava, nos últimos meses, sérios problemas respiratórios. Portanto, a notícia causou comoção mundial e levou milhares de fiéis a se manifestarem nas redes sociais e nas praças da capital italiana.

Estado de saúde nos últimos meses

Nos meses anteriores à sua morte, o papa vinha lutando contra uma pneumonia bilateral — uma infecção grave que afeta os dois pulmões. Ele passou por um período de 38 dias de internação, no qual foi diagnosticado com infecção polimicrobiana, causada por múltiplos microrganismos. Embora tenha recebido alta no final de março, ele ainda apresentava dificuldades para falar e respirar com facilidade. Além disso, em muitas audiências religiosas, precisou de auxílio para concluir leituras e discursos.

A primeira internação do papa ocorreu no início de fevereiro. em meados daquele mês, ele foi levado ao Hospital Agostino Gemelli, onde realizou exames e iniciou tratamento para bronquite. Mesmo assim, Francisco insistiu em manter sua agenda religiosa na medida do possível.

Homenagens e cerimônias fúnebres

O Vaticano anunciou que as cerimônias fúnebres seguirão uma série de ritos tradicionais. Dessa forma, a programação já teve início nesta segunda-feira e está sendo acompanhada de perto por fiéis, autoridades religiosas e chefes de Estado.

Programação (horário de Brasília):

  • 14h – Missa de sufrágio celebrada na Basílica de São João de Latrão, presidida pelo cardeal Baldo Reina.

  • 15h – Ritos de constatação da morte e deposição do corpo no caixão, realizados na Capela de Santa Marta, presididos pelo camerlengo Farrell.

Na manhã de quarta-feira (23), o corpo do papa será levado à Basílica de São Pedro, onde ficará exposto para visitação pública. Portanto, os fiéis poderão prestar suas últimas homenagens em uma das igrejas mais emblemáticas do catolicismo.

Curiosamente, Francisco será sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, e não na Basílica de São Pedro, como a tradição costuma ditar. A última vez que isso aconteceu foi em 1903, com o enterro do papa Leão XIII.

Um pontificado de primeiras vezes

Francisco entrou para a história da Igreja Católica por várias razões. Primeiramente, foi o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta a assumir o papado e o primeiro pontífice da era moderna a ocupar o cargo após a renúncia de um predecessor — no caso, Bento XVI.

Eleito em 13 de março de 2013, durante o segundo dia de conclave, Francisco revelou, mais tarde, que inicialmente resistiu à decisão dos cardeais. Segundo ele, naquele momento, não desejava assumir a liderança da Igreja. Apesar disso, e mesmo diante de suas dúvidas pessoais, acabou aceitando a escolha com humildade e senso de dever. Desde então, assumiu a missão com o firme compromisso de construir uma Igreja mais próxima das pessoas — especialmente dos pobres, dos excluídos e dos marginalizados, que sempre estiveram no centro de sua atenção pastoral.

Reformas e posicionamentos firmes

Francisco usou sua liderança para implementar mudanças estruturais na Cúria Romana, o corpo administrativo do Vaticano. Focando principalmente em reformar a área econômica e financeira da Santa Sé, ele buscou mais transparência na gestão dos recursos do Vaticano.

Foi também um defensor da inclusão social. Ele autorizou bênçãos a casais do mesmo sexo, nomeou mulheres para cargos importantes dentro do Vaticano e permitiu que elas votassem no Sínodo dos Bispos. Ainda assim, apesar das reformas e da abertura a pautas contemporâneas, Francisco resistiu à ordenação de mulheres sacerdotes e manteve firme a defesa do celibato masculino no sacerdócio.

Por um lado, suas decisões progressistas o transformaram em uma figura admirada por fiéis mais jovens e por diversas comunidades historicamente marginalizadas. Por outro lado, essas mesmas posturas provocaram resistência significativa entre os setores mais conservadores da Igreja, que viam suas mudanças com desconfiança ou rejeição.

Uma liderança política e espiritual

Francisco se destacou por seu forte posicionamento político. Em diversas ocasiões, condenou líderes autoritários, criticou Vladimir Putin pela guerra na Ucrânia e cobrou ações da União Europeia durante a crise migratória.

Durante a pandemia de Covid-19, ele emocionou o mundo ao rezar sozinho na Praça de São Pedro, vazia e silenciosa, em uma imagem histórica que simbolizou a dor e a esperança da humanidade diante da crise global.

O papa também insistiu no combate à pobreza como uma das maiores missões da Igreja. Logo ao assumir o papado, escolheu o nome de Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo da humildade e da defesa dos mais vulneráveis.

Seu lema papal, “Miserando atque eligendo” (“Olhou-o com misericórdia e o escolheu”), refletia essa vocação pastoral, centrada na empatia e no acolhimento.

De Buenos Aires ao Vaticano

Francisco nasceu em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936. Filho de imigrantes italianos, formou-se técnico químico antes de ingressar na vida religiosa. Entrou para a Companhia de Jesus (ordem dos jesuítas) em 1958 e se destacou como professor, teólogo e líder eclesiástico.

Ordenado sacerdote em 1969, ele assumiu posições de destaque rapidamente. Com o tempo, foi nomeado bispo auxiliar em 1992, arcebispo titular em 1997 e cardeal em 2001. Ganhou notoriedade por seu estilo de vida simples, avesso a luxos, e por manter uma relação direta com a população.

Antes de se tornar papa, era conhecido por andar de transporte público, cozinhar a própria comida e viver em uma casa modesta. Essas características de humildade e desapego material o acompanharam até o papado. Mesmo após assumir a liderança da Igreja, ele manteve esses hábitos e, inclusive, recusou os aposentos tradicionais do Vaticano, optando por permanecer na Casa Santa Marta, residência mais modesta dentro do complexo.

Um legado de compaixão e coragem

Ao longo de seu pontificado, Francisco inspirou milhões de pessoas ao redor do mundo — inclusive fora dos círculos católicos — e demonstrou de maneira consistente que é possível exercer liderança com humildade, empatia e compaixão. Por um lado, sua postura acessível e seu discurso acolhedor conquistaram ampla admiração, especialmente entre os fiéis mais progressistas e entre aqueles que se sentiam afastados da Igreja. Por outro lado, algumas de suas decisões e resistências a mudanças mais profundas não agradaram a todos. Ainda assim, seu papado se consolidou como um marco transformador na história da Igreja Católica no século XXI, simbolizando uma era de diálogo, abertura e renovação pastoral.

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