Jovem passa 197 dias preso por recusar alistamento militar

Jovem passa 197 dias preso por recusar alistamento militar

Itamar Greenberg, um jovem israelense de 18 anos, passou 197 dias na prisão militar por se recusar a servir no Exército. Ele recebeu cinco sentenças consecutivas e cumpriu sua pena em uma prisão no centro de Israel, após ignorar a convocação obrigatória imposta à maioria dos judeus israelenses e algumas minorias acima dos 18 anos.

Greenberg afirmou que sua decisão foi o “culminar de um longo processo de aprendizado e avaliação moral”. Em Israel, aqueles que rejeitam o alistamento por objeção de consciência são chamados de “refuseniks”. No início deste mês, ele deixou a prisão de Neve Tzedek pela última vez.

“Quanto mais eu aprendia, mais percebia que não poderia vestir um uniforme que simboliza matança e opressão”, disse Greenberg. Ele explicou que a guerra de Israel em Gaza — iniciada após o ataque do Hamas ao sul de Israel, em 7 de outubro de 2023 — reforçou sua decisão.

“É genocídio”, declarou. “Então não precisamos de boas razões para recusar.”

O impacto da guerra em Gaza

O governo israelense nega as acusações de genocídio contra os palestinos. No entanto, após a retomada dos ataques na semana passada, Israel já matou mais de 50 mil palestinos ao longo de 17 meses, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. Além disso, desde terça-feira (18), os ataques intensificaram-se, causando a morte de mais de 670 pessoas e deixando outras 1.200 feridas, conforme relatado pelas autoridades de saúde locais.

Apesar das consequências de sua escolha, Greenberg reafirmou sua posição:

“Quero essa mudança e estou disposto a dar minha vida por ela”, declarou, deixando claro que preferiu a prisão a servir às Forças de Defesa de Israel (IDF).

O Exército israelense e sua influência na sociedade

Em Israel, o Exército é mais do que uma instituição militar: ele se entrelaça com a identidade nacional. Desde o ensino fundamental, as crianças aprendem que, um dia, se tornarão soldados responsáveis por proteger os mais jovens. Militares visitam escolas, incentivando o alistamento, e aos 16 anos, os jovens já recebem suas primeiras ordens, culminando no recrutamento obrigatório aos 18.

Para muitos, servir ao Exército representa uma honra, um dever e um rito de passagem. Greenberg, porém, enfrentou forte rejeição por sua decisão. Ele foi chamado de “judeu que odeia a si mesmo”, “antissemita”, “apoiador de terroristas” e “traidor”, até mesmo por familiares e amigos.

Número de refuseniks cresce, mas ainda é pequeno

Desde o início da guerra, cerca de uma dúzia de adolescentes israelenses se recusaram publicamente a se alistar por objeção de consciência, segundo a organização Mesarvot, que apoia os refuseniks. Embora o número seja pequeno, ele já supera os registros de anos anteriores.

A Mesarvot também destacou que existem muitos “refuseniks cinzas” — jovens que alegam problemas de saúde mental para evitar o serviço militar e escapar da prisão. Como esses casos não são oficialmente divulgados, o número real de recusas é desconhecido.

Outro grupo anti-guerra, o Yesh Gvul, estima que cerca de 20% dos jovens obrigados a servir se recusam a fazê-lo, incluindo tanto os refuseniks declarados quanto os que usam isenções médicas. O Exército israelense não divulga dados sobre a recusa ao alistamento, e a CNN solicitou essas informações, mas não obteve resposta.

Além dos refuseniks, outros grupos também protestam contra a tradição militar de Israel. Antes dos ataques de 7 de outubro, milhares de reservistas ameaçaram não se apresentar ao serviço em protesto contra a tentativa do governo de enfraquecer o Judiciário. Nos últimos meses, a polêmica sobre o alistamento de homens ultraortodoxos também gerou tensões, já que muitos se recusam a servir, alegando que seus estudos religiosos devem ter prioridade.

Mesmo dentro da esquerda israelense, as opiniões de Greenberg são vistas como extremas. Ainda assim, ele e outros refuseniks acreditam que seu movimento pode abrir espaço para um debate mais amplo sobre os impactos da militarização na sociedade.

“Se eu entrar para o Exército, serei apenas parte do problema. Prefiro ser parte da solução”, afirmou Greenberg. Ele reconhece que talvez não veja essa mudança em vida, mas mantém sua posição.

Protestos e insatisfação contra Netanyahu

No sábado (22), cerca de uma dúzia de refuseniks se reuniu na sede da coalizão política de esquerda Hadash para planejar uma manifestação no centro de Tel Aviv. Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, denunciam que Israel pratica um regime de apartheid contra os palestinos, algo que o governo israelense rejeita e classifica como antissemita.

A insatisfação com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu cresce a cada dia. Dezenas de milhares de manifestantes acusam o premiê de adotar medidas antidemocráticas para se manter no poder e questionam a continuidade da guerra, que, após quase um ano e meio, ainda não alcançou os objetivos desejados.

Além disso, a renovação dos ataques coloca em risco a vida dos 24 reféns que ainda estão sob poder do Hamas em Gaza. Para os refuseniks, esse momento pode encorajar mais israelenses a rejeitar o serviço militar, mesmo aqueles que não se identificam com a esquerda.

“Quando Israel reiniciou a luta, muitas pessoas começaram a dizer que recusariam o serviço militar, mesmo sem apoiar os palestinos. Elas simplesmente querem o cessar-fogo e o retorno dos reféns”, explicou Greenberg.

“Prefiro prisão a matar crianças”, diz outro refusenik

Outro refusenik, Iddo Elam, de 18 anos, também cumpriu pena por sua recusa e reforçou sua posição:

“Eu preferiria isso a matar crianças.”

Segundo a UNICEF, mais de 14.500 crianças morreram em Gaza desde o início da guerra.

Elam espera que sua resistência ajude os israelenses a compreender que “a dor dos palestinos é a mesma dos israelenses”.

Greenberg, por sua vez, explicou que decidiu tornar sua história pública porque “não queria mentir”.

Enquanto isso, um jovem de 16 anos, que pediu para não ser identificado, revelou à CNN que pretende recusar o alistamento, embora ainda esteja avaliando a melhor forma de fazê-lo. Ele já obteve um laudo psiquiátrico que o isenta do serviço militar; no entanto, afirmou que essa não é a verdadeira razão por trás de sua decisão.

“Se eu alego problemas mentais, estou dizendo ao Exército que o problema sou eu, e não ele”, concluiu.

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